Diálogos possíveis entre Questão Racial e Educação Democrática: Notas sobre Florestan Fernandes

Autores

  • Patricia Costa Pereira da Silva Universidade Federal Fluminense

Palavras-chave:

Sociologia da Educação, Sociologia das Relações Raciais, Desigualdades sociais

Resumo

Através dos estudos realizados pelo sociólogo Florestan Fernandes no contexto social das décadas de 1940 a 1960, este artigo apresenta uma reflexão sobre a questão racial e a educação democrática no Brasil. Objetivou-se fazer uma análise da contribuição de Florestan Fernandes para construção de uma educação democrática que proponha a inclusão racial É possível compreender que o mesmo pretende a educação como problema social, assim como a entende como instrumento capaz de promover a mudança social. Conclui-se que a educação é um dos mecanismos para conscientizar a população sobre a questão do racial e anular as desigualdades raciais. O presente estudo elegeu como metodologia a pesquisa.

Biografia do Autor

Patricia Costa Pereira da Silva, Universidade Federal Fluminense

Doutoranda em Educação da Universidade Federal Fluminense,com estágio sanduíche na Ohio University; Mestre em Educação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; ,e graduada em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente, é Pedagoga da Escola de Serviço Social da UFRJ e sua tese dedica-se ao estudo de trajetórias educacionais de profissionais negros de prestígio do campo jurídico.

Referências

"O negro vem a ser a pedra de toque da revolução democrática na sociedade brasileira."

(FERNANDES, 1989, p.23)

(...) negro e escravo confundem-se. Na linguagem cotidiana, principalmente nas das pessoas que pertenciam à camada senhorial, elas eram noções sinônimas e intercambiáveis. Está em marcha o fetichismo da cor. Negro equivalia a indivíduo privado de autonomia e liberdade; escravo correspondia (em particular do século 18 em diante), a indivíduo de cor. (BASTIDES, FERNANDES, 1959, p.113-114)

A estrutura racial da sociedade brasileira, até agora, favorece o monopólio da riqueza, do prestígio e do poder pelos brancos. A supremacia branca é uma realidade no presente, quase tanto quanto o foi no passado. A organização da sociedade impele o negro e o mulato para a pobreza, o desemprego ou o subdesemprego, e para o trabalho de negro. (FERNANDES, 2007, p.90)

(...) a sociedade brasileira largou o negro ao seu próprio destino, deitando sobre seus ombros a responsabilidade de reeducar- se e de transformar-se para corresponder aos novos padrões e ideais de homem, criados pelo advento do trabalho livre, do regime republicano e capitalista (FERNANDES,1978, p.20)

(...) o regime escravista não preparou o escravo (e, portanto, também não preparou o liberto) para agir plenamente como "trabalhador livre" ou como "empresário". Ele preparou- o, onde o desenvolvimento econômico não deixou outra alternativa, para toda uma rede de ocupações e de serviços que eram essenciais mas não encontravam agentes brancos. Assim mesmo, onde estes agentes apareceram (como aconteceu em São Paulo e no extremo sul), em consequência da imigração, em plena escravidão os libertos foram gradualmente substituídos e eliminados pelo concorrente branco. (FERNANDES,1978, p.51-52)

Antigamente todos os homens eram pretos. Uma vez Deus resolveu premiar o esforço de cada um sem nada ter dito a eles: mandou-os atravessar um rio. O mais esperto, e que tinha mais fé, executou logo as ordens de Deus, atravessando o rio a nado. Quando saiu do outro lado estava completamente branco, que era uma beleza. Outro, quando viu o que aconteceu ao irmão, também correu para as águas do rio, fazendo a mesma coisa que ele tinha feito. Mas a água estava suja e ele saiu do outro lado apenas amarelo. O terceiro também quis mudar de cor, imitando os dois irmãos. Mas, como a água estava muito mais suja e quando ele chegou do outro lado viu com desgosto que estava apenas mulato. O quarto, muito molenga e preguiçoso, quando chegou ao rio, Deus já o tinha feito secar. Então ele molhou os pés e as mãos, apertando-os sobre o leito do rio. É por isso que o preto tem só as palmas das mãos e as solas dos pés. (FERNANDES, 2007, p.240)

(...) o preconceito e a discriminação racial apareceram no Brasil como consequências inevitáveis do escravismo. A persistência do preconceito e discriminação após a destruição do escravismo não é ligada ao dinamismo social do período pós-abolição, mas é interpretada como um fenômeno de atraso cultural, devido ao ritmo desigual de mudança das várias dimensões dos sistemas econômico, social e cultural (HASENBALG, 1979, p.72)

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Publicado

2015-05-04

Como Citar

Costa Pereira da Silva, P. (2015). Diálogos possíveis entre Questão Racial e Educação Democrática: Notas sobre Florestan Fernandes. Revista Café Com Sociologia, 4(1), 134–151. Recuperado de http://revistacafecomsociologia.com/revista/index.php/revista/article/view/434

Edição

Seção

Artigos