O ensino da Antropologia nos cursos de licenciatura e bacharelado: "o que" ensinam e "como" ensinam
Palavras-chave:
Antropologia da Educação, Ensino da Antropologia, Etnografia com Professores de AntropologiaResumo
Pretendo neste artigo dialogar com a proposta deste Dossiê sobre o Ensino da Antropologia, particularmente sobre as relações entre Antropologia e Educação, a partir de uma etnografia realizada com docentes que ministravam o Componente Curricular de Antropologia, em cursos de graduação na cidade de Curitiba/PR. Os dados etnográficos instigaram a reflexão sobre a produção e socialização do conhecimento antropológico, particularmente sobre o ensino deste componente curricular nos cursos de graduação, a partir da aprendizagem nos PPGAS. Isto porque, temos observado que nas últimas duas décadas houve uma grande demanda dos cursos de graduação, pelos referenciais da Antropologia. A inclusão desta, na maioria dos Projetos Pedagógicos dos Cursos, passou a ser requerida pelo seu potencial teórico, que passa necessariamente pela compreensão do Outro. É neste cenário que a Antropologia está inserida e tudo indica que serão solicitadas contribuições, cada vez e sempre mais dos seus praticantes, para a compreensão daquilo que se tornou o seu legado: o estudo das sociedades humanas e o respeito pelas diferenças. No entanto, se os conteúdos antropológicos encontram ressonância nos mais diferentes cursos de graduação, principalmente de licenciaturas, a formação para a docência, particularmente nos PPGAS, tem sido historicamente negligenciada, pois a ênfase é a pesquisa. Destacamos que esta negligência é estrutural, a qual tem exigindo dos professores e professoras de antropologia algumas estratégias para superação destas dificuldades. Procuramos identificar, junto a estes docentes, as suas estratégias metodológicas na transmissão dos conhecimentos antropológicos ("como" ensinam e "o que" ensinam"), para compreender as implicações deste tipo de formação nos PPGAS. Os dados de campo indicaram que os nativos operavam uma separação entre os conteúdos ensinados e os métodos utilizados, ao enfatizar o primeiro em detrimento do segundo.
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