Que Bom Te Ver Viva: uma discussão fílmica sobre o acerto de contas possível com a ditadura militar

Autores

  • César Alessandro Sagrillo Figueiredo UFT - UNIVERSIDADE FEDERAL DE TOCANTINS

Palavras-chave:

ditadura militar, produção cinematográfica, vozes do testemunho, justiça de transição.

Resumo

Resumo

A ditadura civil-militar que perdurou de 1964 até 1985 trouxe inúmeras sequelas deletérias para o Brasil, entre os fatos adversos destacamos as atrocidades cometidas contra os oponentes do Estado e presos políticos. Este artigo possui como objetivo principal elaborar um balanço político da transição para a democracia brasileira a partir do filme Que Bom Te Ver Viva, esta produção de 1989 visou trazer o testemunho das mulheres que foram presas políticas, relatando todo o infortúnio sofrido por essas personagens no cárcere brasileiro. Do ponto de vista dos procedimentos metodológicos, tratar-se-á de um trabalho qualitativo, pois visa um diálogo da reconstituição histórica a partir de uma leitura cinematográfica da política, procurando examinar a produção fílmica buscando compreender a sua qualidade técnica, méritos e, especialmente, a atualidade histórica desse filme realizado há 30 anos. Como resultado de pesquisa compreendemos a partir da análise fílmica, que o processo de redemocratização brasileira se configurou de acordo com o modelo denominado de Transição pela Transação, extremamente elitista e sem o devido ajuste de contas com passado.

Palavras-chaves:ditadura civil-militar. Produção cinematográfica. Vozes do testemunho. Justiça de transição. 

 

Abstract

The civil-military dictatorship that lasted from 1964 until 1985 brought numerous deleterious sequels to Brazil, among the adverse facts we highlight the atrocities committed against state opponents and political prisoners. This article has as its main objective to elaborate a political balance of the transition to the Brazilian democracy from the movie Que Bom Te Ver Viva. Brazilian prison. From the point of view of methodological procedures, this will be a qualitative work, since it aims at a dialogue of historical reconstruction from a cinematic reading of politics, seeking to examine filmic production seeking to understand its technical quality, merits and especially , the historical timeliness of this film made 30 years ago. As a result of research we understand from the film analysis that the process of Brazilian redemocratization was configured according to the model called Transition by Transaction, extremely elitist and without proper adjustment of past accounts..

Keywords:civil-military dictatorship. cinematographic production. voices of witness. transitional justice.

Biografia do Autor

César Alessandro Sagrillo Figueiredo, UFT - UNIVERSIDADE FEDERAL DE TOCANTINS

Possui doutorado em Ciência Política na linha de pesquisa de Política Internacional pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2013. Possui Mestrado em Ciência Política pela mesma Instituição e programa em 2009. Também, foi professor no curso O ENSINO DA SOCIOLOGIA PARA PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO pela UFRGS. Foi bolsista de Pós-Doutorado da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) no Programa de Pós-Graduação em Ciências Política (PPGCPOL), fazendo parte da equipe do Projeto de Investigação de Metodologia de Pesquisa em Ciência Política do Núcleo de Políticas Públicas (NEPU) e como professor docente do PPGCPOL/UFPel no período 2013/2014. Foi coordenador do curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Federal do Tocantins, na gestão de abril de 2015 a abril de 2017. Está vinculado como Prof.º Adjunto I em Ciência Política do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Federal de Tocantins (UFT) e líder do Grupo de Pesquisa Violência e Estado. Realizou estágio de Pós-doutorado no PPG Letras da UFT, desenvolvendo pesquisa com o tema acerca da Literatura do Exílio no período 2017/2018. Atualmente, está credenciado como professor permanente no PPG Letras/UFT como professor permanente desenvolvendo atividades de ensino, pesquisa e extensão. Trabalha com a linha de pesquisa em Memória Política, Partidos Políticos, Ditadura Militar e Literatura Política desenvolvendo pesquisa sobre a Guerrilha do Araguaia, Reparações do Estado e Literatura do Exílio

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Filme Analisado:

Que bom te ver viva. Brasil, 1989, 1:37:32. Dirigido por Lúcia Murat.

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Publicado

2020-02-13

Como Citar

Figueiredo, C. A. S. (2020). Que Bom Te Ver Viva: uma discussão fílmica sobre o acerto de contas possível com a ditadura militar. Revista Café Com Sociologia, 8(2), 46–61. Recuperado de https://revistacafecomsociologia.com/revista/index.php/revista/article/view/1082

Edição

Seção

Sociologia e Filme

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