A quem interessa classificar a pornografia?
problematizações do campo pornográfico a partir do estruturalismo genético de Bourdieu
Palavras-chave:
Pornografia, Estigma, Trabalho do Sexo, Estruturalismo genéticoResumo
O presente artigo se localiza no âmbito das discussões das sociologias contemporâneas e tem por objetivo problematizar a indefinição do conceito de pornografia, que se altera significativamente a depender do contexto histórico e do grupo que o nomeia. A partir de uma base teórica norteada pelo estruturalismo genético de Bourdieu, discute-se o poder de atribuir nomes e classificações à pornografia, influenciado por perspectivas específicas. Observa-se que alguns posicionamentos classificadores da pornografia, operam e são operados a partir da noção de categorização dicotômica e hierárquica: o puro acima e o impuro abaixo, seja diretamente ou indiretamente, como quando se analisa a posição reacionária de grupos conservadores e feministas inseridos no campo jurídico. Cada abordagem tem suas especificidades, mas se relacionam com a argumentação central de que as categorizações são moldadas por desigualdades na aquisição de capital social, simbólico, econômico e cultural, assim como na sua perpetuação, e acabam por marcar o “impuro” pelo estigma, especialmente de quem se insere no campo da representação pornográfica.
This article is situated within the discussions of contemporary sociologies and aims to problematize the vagueness of the concept of pornography, which changes significantly depending on the historical context and the group that names it. Guided by a theoretical work of Bourdieu's genetic structuralism, the article discusses the power to assign names and classifications to pornography, influenced by specific perspectives. It is observed that some classificatory stances on pornography operate and are operated through the notion of dichotomous and hierarchical categorization: the pure above and the impure below, either directly or indirectly, as when analyzing the reactionary position of conservative and feminist groups of the legal field. Each approach has its specificities, but they relate to the central argument that categorizations are shaped by inequalities in the acquisition of social, symbolic, economic, and cultural capital, as well as in its perpetuation, ultimately stigmatizing the "impure," especially those within the field of pornographic representation
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